domingo, 13 de fevereiro de 2011

Presença

A vida tem sido agitada e corrida, tão corrida que por vezes nos esquecemos que estamos vivendo, e que isso acontece somente uma vez, não estamos num teste drive pra depois escolhermos o que vamos querer viver. É triste constatar que não prestamos a devida atenção nos nossos momentos, como deixamos passar detalhes pequenos e algumas vezes grandes, como um elefante por nós sem que ao menos manifestemos algo, do tipo horror, admiraçao, medo , alegria, satisfação..., ficamos esperando algo acontecer, mas mal sabemos que já esta acontecendo, a vida ta rolando enquanto aguardamos na sala de espera.....
Tenho lido muito nos últimos tempos ( depois falarei sobre os livros aqui), assistido muito filme, e observei como e relatado isso em diversos destes, acredito que isso tenha me ajudado a prestar mais a atenção nas minhas atitudes , em como tenho deixado passar coisas , pessoas, momentos  que eu não terei a oportunidade de vivenciar novamente, mesmo porque , caso se repita, não será a mesma pessoa naquele momento , ne?! Então, após uma seqüência de fatos ao longo de muito tempo, tenho tentado me ater mais as coisas, confesso que por vez e dificil, parece que estamos vivendo na era do piloto automático,quando acordamos aperta-se o play e daí tudo se inicia, e gde parte do dia fazemos tudo exatamente como fizemos a meses atras, andamos pelas mesmas ruas, desviamos dos mesmos obstáculos, ouvimos as mesmas musicas, conversamos com as mesmas pessoas, enfim, nos desviamos o tempo todo do novo. Será que você sabe a cor da casa mais próxima da sua?Voce sabe o que comeu no café da manha de ontem? Quando foi que você usou um lápis pra anotar algo que te marcou, que fez sentido , ou não fez ?Voce estava presente no seu ultimo beijo?E na ultima refeiçao?
Tenho me esforçado para estar presente desgustando minha refeição, admirando uma borboleta ( o que não e difícil, elas são tão lindas,rs), depositando toda atenção a uma conversa,ao meu trabalho,..., aprendi que isso e amor, e que amor são as atitudes, a forma como eu vivo, e não necessariamente o sentimento, que o amor é o reflexo de como me porto e que tudo ao meu lado se transforma quando ajo com amor.(“ Amor é o que o amor faz”.).

E por isso, por todas essas reflexões amorosas, por essa necessidade absurda de me disciplinar em estar presente agora é que fiz esses 2 coraçoesinhos (tchucos, rsrsrsrsrs) pra decorar minha casinha, vejam so. Deixo pra vcs um texto da MArtha Medeiros que eu amo , e acho que retrata mto bem isso tudo. 

A todos um lindo domingo e uma semana deliciosa.
Bjs

Déia
                                                                                                                             
                                                                                         





















POESIA OCULTA

Não, hoje não vou trabalhar. Acordei tão cedo que consegui ver os primeiros raios solares refletidos nos vidros dos edifícios, dando a eles uma coloração rósea que deixou a cidade com uma cara diferente da que ela costuma ter. Havia ali, naquele instante, 6h47 da manhã, poesia. Uma poesia com a qual nossos olhos desacostumaram. Hoje não vou trabalhar, preciso procurar por ela, essa poesia oculta.
E sei que vou encontrá-la em todo lugar, bastando pra isso a minha intenção. Começou. Já consigo vê-la na lombada dos livros que estão dispostos na estante, vários, um ao lado do outro, compondo um mosaico de cores e possibilidades. E vejo também na xícara de cafezinho, a louça branca, ao lado do jornal aberto, em cima da mesa, e um copo d´água, os três em colóquio matinal, clássicos do cotidiano. Ali: a poesia da caixa de fósforos quietinha na cozinha. Da mulher passando o batom na frente do espelho fingindo que não está vendo que seu marido a espia escondido, ele próprio também fingindo que já não se deslumbra com a cena.
A letra caprichada da criança na primeira folha do caderno. A fila de táxi no ponto em frente ao parque, enquanto os motoristas conversam e fumam aguardando os passageiros. O carrinho de supermercado abandonado no meio do estacionamento depois que todos se foram, esquecido na noite. Os cachos ruivos que estão no chão de um salão de beleza mixuruca, onde alguém cortou o cabelo e se arrependeu. A poesia oculta não é tão oculta assim.
Um varal com roupas puídas, penduradas numa janela de um edifício antigo. A torcida de um estádio explodindo ao ver entrar em campo o seu time. Duas adolescentes de cabelos longos cochichando e rindo à saída do cursinho. O olhar perdido da mulher dentro do ônibus. Um guarda-chuva preto.
Sua amiga que piscou o olho pra você lá do outro lado da festa, o afeto atravessando o salão e desviando dos convidados que separam vocês duas. A chama da vela que balança porque você está gargalhando. O casal que caminha na noite escura na beira da praia, agasalhados e agarrados, achando que ninguém os vê. Um resto de bolo dentro da geladeira.
O canhoto do cartão de embarque no fundo da bolsa. A almofada que caiu do sofá da varanda por causa do vento. O vapor que embaçou o espelho do banheiro depois do banho. A mochila em cima da cama da sua filha. Seu filho dormindo.
A poesia é uma fatalidade do olhar. Basta um frame de segundo e ela se revela, para então se esconder novamente atrás da pressa, do tédio, do desencanto, do hábito, do medo do ridículo que paralisa todos nós. Eu hoje não vim aqui para trabalhar, vim estimular o mistério.
MARTHA MEDEIROS

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